Manifestação Cultural e Religiosa da Festa do Divino Espírito Santo de Guaratuba

Manifestação Cultural e Religiosa da Festa do Divino Espírito Santo de Guaratuba

Fica declarado como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Paraná a Manifestação Cultural e Religiosa da Festa do Divino Espírito Santo de Guaratuba.

Inscrição: 001-II

 

Processo/Legislação: Lei Estadual nº 21.146 de 11 de julho de 2022

Data da inscrição: 06/10/2022

 

Fundamentos/histórico: A Lei Estadual nº 21.146, de 11 de julho de 2022, declara Patrimônio de Natureza Cultural Imaterial Paranaense a Manifestação Cultural e Religiosa da Festa do Divino Espírito Santo de Guaratuba, nos termos ao art. 216 da Constituição Federal e do art. 191 da Constituição Estadual.

A festa iniciou no mesmo ano em que a cidade foi fundada, em 1771, quando Guaratuba ainda era Vila de São Luiz de Guaratuba, tendo sido fundada por 200 famílias que vieram povoar o local a pedido do Rei de Portugal, Dom José I.

Desde 1910, surgiu a tradição do casal festeiro, que são os responsáveis por toda a organização da festança, além dos foliões, que fazem a peregrinação com as bandeiras do divino, percorrendo as casas em todo município, incluindo a área rural.

Desde então a Festa do Divino é uma grande comemoração na cidade, onde movimenta o comércio local, com a vinha de muitos turistas, bem como, toda a comunidade. Devido a importância da festa a Prefeitura de Guaratuba declarou patrimônio imaterial do Município de Guaratuba a Festa do Divino Espírito Santo e a manifestação cultural religiosa dos foliões do Divino Lei. 1878/2021.

A festa é celebrada no mês de julho, é um evento religioso, além dos foliões, que realizam a peregrinação com as Bandeiras do Divino e da Trindade Santa, percorrendo as casas. A chegada das bandeiras, sinaliza a passada do Divino e da Santíssima Trindade nas residências, é nesse momento que os fiéis pedem milagres e agradecem as preces já alcançadas.

De cores distintas, cada bandeira carrega um significado, a bandeira branca representa a Santíssima Trindade e a vermelha o Divino Espírito Santo, as duas peregrinam juntas por até dois meses antes da realização da festa, acompanhadas de quatro foliões, recebendo donativos.

O grupo é composto pelo mestre, contra, rabequista e tríple. Cada um com instrumento: viola, tambor e rabeca. Nas bandeiras, são pregadas fotos e fitas pedindo graças, também chamado de os foliões do Divino Espírito Santo e da Santíssima Trintade;

Após a apresentação das bandeiras e o acolhimento das mesmas nas casas, os foliões cantam duas canções, recebem donativo e se retiram cantando, indo para casas vizinhas.

Terminadas as visitas e recolhidas as bandeiras das viagens pelo interior do município, os foliões se preparam para os dias da grandiosa festa e conduzem as bandeiras ao altar da Igreja Matriz Nossa Senhora do Bom Sucesso, acompanhados pelo casal festeiro mor.

As Bandeiras permanecem no altar até o final da festa.

Reza a lenda, que um velho pescador, já de madrugada, envolto na escuridão sob forte neblina em alto mar, remava na esperança de voltar para casa, não muito longe da costa.

A terra entretanto, parecia fugir a medida em ele avançava para o mar alto. No seu desespero, rogou ao Divino Espírito Santo que o guiasse para a terra firme. Surpreso, viu ao longe um sinal luminoso na escuridão, abrandado pela neblina.

Exausto, seguiu em direção da luz, certo de que seu pedido foi atendido pelo Espírito Santo.

Sem noção do tempo, o pescador calculava que aquela noite era a segunda noite de agonia no oceano. Juntou forças que ainda restavam, continuou a remar, mas não conseguia chegar.

Veio a alvorada, uma luz salvadora iluminando seu caminho. Pode assim, distinguir os rochedos e os contornos da serra do continente, já bem próximo. A luz que o havia guiado, ainda brilhava bem próximo. Umas remadas a mais e sua embarcação tocava na areia.

Ele saltou do barco, bastante cansado, buscando este segredo admirável. Porém, aquele brilho, desapareceu de repente. Procurou por toda a parte e nada de encontrar. Mas com o despontar dos raios do sol, ele pode notar, um pouco mais adiante, um objeto que tinha uma forma retangular. Era uma caixa simples meio avermelhada.

Será que esse era o seu tão desejado tesouro?

Seu coração disparou, segurava o precioso achado em suas trêmulas mãos, calejadas pelo longo tempo de árduo trabalho. Mas aquela caixa era muito leve, não podia conter algo valioso, desiludindo um pouco o velho pescador.

Forçando a fechadura, bastante enferrujada, abriu a caixa e teve uma enorme surpresa: dentro da caixa havia uma Pomba Dourada – símbolo do Divino Espírito Santo, coberta pelo lodo.

Naquele momento o pescador compreendeu os mistérios de Deus recordando-se do seu voto de fé e da prece que fizera horas antes. Uma paz adentrou em seu espírito, olhou a sua volta e percebeu naquele instante, que haviam se passado vários dias (oito). Estava próximo a Vila de Guaratuba, longe, muitas milhas do seu velho rancho.

O milagre aconteceu, os murmúrios, que se ouviam no mar dos companheiros que morreram trabalhando no mar, não seriam mais ouvidos. Agora suas almas teriam finalmente a paz que sempre esperavam. Tomou o rumo da Vila, onde a notícia do miraculoso achado percorreu rapidamente entre o povo da comunidade.

– Era preciso lavar a imagem em água pura, – diziam eles.

Então ela foi levada a uma fonte de águas cristalinas que brotavam do sopé de uma montanha (Morro do Pinto), a beira de um caminho que levava as praias.

A imagem do Divino foi lavada, deixando nas águas suas ricas virtudes, para o alívio das dores e enfermidades, era o 9º dia. Mais tarde, a Caixa com a imagem, foram levadas para o altar da Igreja Matriz, permanecendo ali por vários anos, até o seu misterioso desaparecimento.