Originais da Obra Memória Histórica da Cidade de Paranaguá

Em 17 de dezembro de 2003, a obra "Memória Histórica da Cidade de Paranaguá" foi tombada pelo estado. Os manuscritos, criados por Antonio Vieira dos Santos na primeira metade do século XIX, são um registro valioso sobre a história da cidade desde sua fundação em 1648. A maioria dos documentos transcritos pelo autor perdeu-se no tempo, evidenciando a importância da obra como registro histórico e documental.

 
Mais Informações:

Inscrição: 144-II

Processo: 01/2002

Data da Inscrição: 17 de dezembro de 2003

Localização:
Município de PARANAGUÁ
Rua 15 de Novembro, 603

Proprietário: Particular - Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá

HISTÓRICO

Os originais da obra contêm preciosas informações sobre a historia de Paranaguá, o mais antigo assentamento urbano do Estado. E como muito da documentação histórica que relata e transcreve não mais existe, o livro tornou-se fonte indispensável de pesquisa para sucessivas gerações de pesquisadores da história do Paraná. Os originais manuscritos e ilustrados pelo autor, pelo seu valor histórico e documental, como testemunho material de um modo peculiar de fazer livros e sistematizar o conhecimento, passam a integrar os bens de valor cultural tombados pelo Estado do Paraná.

Manuscritos de Vieira dos Santos

“Portuense, notável cronista e polígrafo que muitos assinalados serviços prestou à História do Paraná". Depois de frequentar escola de primeiras letras no torrão natal, aos oito anos de idade transferiu-se para o Brasil, vindo estabelecer-se em Paranaguá, onde se tornou auxiliar do comércio. O caixeirinho procurou, porém, ilustrar o seu espirito ao mesmo tempo em que buscava firmar uma posição social que lhe permitisse celebrar a realização dos seus projetos. Espírito investigador, amante do passado e cultor das ciências, principalmente da medicina e da astrologia, Vieira dos Santos não perdia os momentos de lazer.
Jovem ainda, constituiu família, desposando em Morretes, onde se fixara residência, a Dona Maria Ferreira de Oliveira, filha do Tenente João Ferreira de Oliveira e de Dona Anna Gonçalves Cordeiro, por esta neta de Raymundo José Senabio e de D. Euphrosina da Silva Freire, a velha.
No comércio, onde exercitava a sua atividade, gozou durante algum tempo de uma situação auspiciosa. Conta ele que fora quem concedera crédito para o seu concunhado Comendador Antônio José de Araújo fazer os primeiros suprimentos para o seu negócio; entretanto, enquanto a fortuna sorria para esse, lhe era menos propicia.
Vendo que Morretes (que então contava com 48 casas, mas que era empório do comércio da comarca) os seus negócios não corriam propícios, transferiu a residência para Curitiba. Aí teve ensejo de entrar em contato com os índios kaingangues e organizou um pequeno vocabulário da língua kamé, falada pelos mesmos selvagens.
Em 1812, exerceu o cargo de vereador de Paranaguá e muito trabalhou pela causa da emancipação da comarca, dirigindo ao Sr. Pedro Joaquim de Castro Corrêa e Sá, indigitado para governar a nova província e patrono da causa dos paranaenses o ofício de 25 de abril , pedindo todos os esforços para a consecução da justa aspiração popular. Ainda mais; tratou de melhorar as vias de comunicação entre o litoral e o interior, propondo à Câmara de Curitiba, uma contribuição voluntária para a fatura da estrada do Itupava, de 20 réis por animal de cada viagem.
A mesma câmara promoveu uma subscrição entre os principais moradores da vila, para o roçamento dos matos aformoseamento das ruas e cerco do rocio. Defendeu as regalias da Câmara na procedência dos dutos de incenso, nas festividades religiosas, entrando em luta com o governador militar da praça de Paranaguá, Victorino Rocha.
Foi vítima de um incêndio em sua casa de residência em Paranaguá quando assistia, como tesoureiro de uma irmandade, a uma festa religiosa, perdendo, com os seus móveis, a biblioteca, na qual se contavam 42 obras de medicina. Tinha pronunciado pendor para essa ciência e como um dos seus irmãos se formara em medicina, escreveu-lhe longa carta mostrando os seus conhecimentos na classificação de medicamentos, para que ele não pensasse que, como saiu da terra, pequeno era um completo ignorante. As cartas dirigidas à família, além das referências, continham sempre um fim erudito. Descreviam coisas do Brasil: índios, árvores, peixes, pássaros, vilas, cidades, etc. e, eram reproduzidas em volumoso códice desde os dizeres do subscritos.
Não se limitou à busca, no revolver dos alfarrábios do arquivo de Paranaguá, para compor as “Memórias históricas de descritivas da cidade de Paranaguá”, que escreveu em dois grossos volumes, procurando aformosea-los com arabescos e desenhos, que aliás não revelavam gosto artístico: ouviu os antigos, colheu da tradição, o que era corrente, aproveitando-se da excelente memória da avó de sua esposa, D. Euphrosina. Nesse trabalho que se pode considerar a obra capital de Antônio Vieira dos Santos se verifica eu compulsou os cronistas e historiadores da época.
Não era um estilista: faltava-lhe mesmo o conhecimento das normas gramaticais, da disciplina da língua. Entretanto, apesar de lutar com essa dificuldade, era o primeiro a reconhecer, deixou ao que se sabe, nada menos de 18 códices de grande formato manuscritos. Conhecemos de Antônio Vieira dos Santos os seguintes trabalhos: - Memórias históricas e descritivas de Paranaguá e seu município em 2 volumes; - Memórias históricas e descritivas de Morretes e do Porto Real, vulgarmente chamado Porto de Cima , em 2 volumes; - Genealogia da ilustre família Silva Freire – Rodrigues França; - Correspondência epistolar 2 códices.
Além dessas obras, sabemos que tinha escrito um trabalho de astrologia, ciência que também cultivava. Conhecemos as cartas astrológicas com as sinas de seu pai e de suas irmãs, que são curiosos depoimentos da sua cultura.
Era maçom e liberal em ideias.
Conquanto fosse português de nascimento, tomou posição de destaque no partido brasileiro da comarca de Paranaguá e Curitiba, promovendo em Morretes curiosa festividade cívica, celebrando a coroação do Imperador Pedro I. O seu continuo estudo: a frequência com que procurava traduzir os garranchos quase indecifráveis dos velhos livros da câmara de Paranaguá, foi enfraquecendo o órgão visual a ponto de torná-lo cego.
Já traçamos com mais precisão de dados a biografia dessa figura notável e benemérita: Antônio Vieira dos Santos é, sem dúvida, um dos vultos mais dignos da nossa vereação que oferece o passado paranaense. Foi um infatigável pesquisador, um paciente coletor de fatos e episódios do passado. Sem preocupações literárias ou científicas ele conseguiu salvar do completo olvido o passado paranaguense. A sua ação a este respeito foi providencial: se não coletasse, na época em que escreveu, os preciosos dados históricos das suas memórias, seria mais tarde improfícuo qualquer empenho de restaurar as tradições e conservar as memórias de Paranaguá.
Do seu consórcio teve os seguintes filhos: 1. Antônio Vieira dos Santos Júnior, casado com d. Maria Rita do Rosário, tendo cinco filhos: Francisca, Francisco, João, Vergílio e Frederico; 2. José, faleceu jovem; 3. D. Maria Joaquina Vieira dos Santos; 4. D. Anna Joaquina de Oliveira França, casada, em primeiras núpcias com José Lopes Ferreira, do qual teve Antônio Lopes Ferreira e em segundas núpcias com Agostinho José Pereira Lima, de quem teve Agostinho José Pereira e Laura; 5. José Vieira dos Santos, casado com D. Emíla Sophia Moriceni Borba, filha do bravo oficial Vicente Borba.
Francisco Negrão, que tem sido o mais extremado admirador desse notável vulto, conseguiu que a Câmara de Paranaguá, não só mandasse publicar as Memórias do seu município, como também inaugurasse em um dos salões da prefeitura o retrato à óleo do esforçado polígrafo e traçou a sua biografia. São estes os ligeiros apontamentos que de memória traçamos aqui, visto não termos encontrado, no momento, quer os nossos dados, quer os de Francisco Negrão sobre a fecunda vida do Pai da História Paranaense” (sic.). LEÃO (1916: v.1: 117).

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  • Originais da Obra Memória Histórica da Cidade de Paranaguá
    Originais da Obra Memória Histórica da Cidade de Paranaguá - Livro Tombo II - Inscrição 144 - Página 136
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