Igreja de Santo Antônio - Matriz da Lapa

A edificação religiosa é um exemplar da arquitetura luso-brasileira da segunda metade do século XVIII e uma das igrejas mais antigas dos Campos Gerais. Reconhecida como patrimônio histórico-artístico brasileiro, foi um dos primeiros tombamentos realizados pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (1938), sendo que seu tombamento estadual ocorreu em 01 de março de 1972.

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Mais informações

Inscrição: 35-II

Processo: 36/72

Data da Inscrição: 01 de março de 1972

Localização:
Município de LAPA
Praça da Matriz

Proprietário: Particular - Arcebispado Metropolitano

Outras denominações: Igreja Matriz de Santo Antônio

HISTÓRICO

A abertura da estrada que em 1728 partia do Morro dos Conventos em Araranguá, Santa Catarina – mais tarde foi feita a ligação para Viamão, no Continente de São Pedro do Rio Grande -, e demandava Sorocaba, possibilitou a viagem do gado das vacarias daquela região com destino a São Paulo. Ao longo desta estrada, conhecida também por Estrada da Mata, estabeleceram-se pousos e invernadas, para a engorda do gado, antes que este chegasse ao ponto de destino, conforme o comprova Auguste Saint-Hilaire, o ilustre viajante francês que no curso de seis anos percorreu o Brasil: “aproveitavam-se as excelentes pastagens dos campos gerais, para aí fazer invernar as imensas tropas de gado procedentes do Rio Grande do Sul”.

À medida que esses pousos foram se desenvolvendo e se transformando em pequenas povoações, teve início, concomitantemente, a distribuição de sesmarias na área que hoje corresponde à Lapa, feita, pouco tempo depois, freguesia de Santo Antônio da Lapa, e em 1806, vila Nova do Príncipe de Santo Antônio da Lapa, conforme consta de documentação eclesiástica e civil.

Entre 1740 e 1769 foram outorgadas sesmarias a Ignácio da Costa, Leandro da Costa, Manoel da Luz, Antônio Gonçalves dos Reis, ou Rodrigues, e João Pereira Braga, sesmarias essas de conformidade com a política perseguida pela Coroa de Portugal de povoamento e ocupação dos territórios interiores do Brasil.

O pouso, paragem, prestava-se perfeitamente para os tropeiros, em razão de estar a média distância entre o início e o fim da viagem. Tornou-se, portanto, parada obrigatória, fato que motivou a fixação de alguns moradores, os quais, dentro de suas possibilidades, atendiam aos problemas advindos da longa viagem desde as pastagens do Sul.

O certo é que não demorou muito tempo para que vários tropeiros e arribados ao local resolvessem estabelecer-se na área, iniciando pequena póvoa. Anos passados, solicitaram ao governador da capitania de São Paulo que fosse criada uma freguesia e se determinasse a construção da igreja “onde se celebrassem os ofícios divinos, para pasto espiritual de seus moradores”, o que se confirma através de consulta aos Livros de Tombo usados para batizados e casamentos da capela de Nossa Senhora da Conceição de Tamanduá, situada a cinco léguas ao Norte da atual cidade da Lapa.

Em 6 de agosto de 1768, atendendo ao pedido dos moradores de Santo Antônio do Registro, D. Luiz Antônio de Souza Botelho Mourão, morgado de Mateus, capitão-general e governador da capitania de São Paulo, através de carta, “houve por bem conceder, uma légoa de terras de testada e outro tanto de certão, para constituir o patrimônio e conservação de huma igreja que ha de ser edificada”, pois, consoante opinião corrente, “não se podia erigir igreja sem se fazer patrimônio”.

Ato contínua, para demarcação e posse das terras foram designados o tenente-coronel Afonso Botelho de Sampáio e Souza, ajudante-de-ordens e primo do governador, e o medidor oficial, os quais, juntamente com o procurador da câmara, deram início ao trabalho, com “corda medida de dez braças craveiras”. O auto da demarcação e posse das terras que configuravam o patrimônio da igreja foi lavrado em 13 de junho de 1769, e em seu nome assinou padre João da Silva Reis, que era natural de Curitiba. A nova freguesia tomou por Orago Santo Antônio.

Só em 13 de junho de 1797, entretanto, a capitania de São Paulo criou a “Freguesia de Santo Antônio da Lapa, sob jurisdição da Vila de Curitiba”, que, segundo a própria Carta de Sesmaria, “ficava na ‘paragem’ da Lapa”. De acordo com o Livro nº 2 do Tombo da Matriz da Lapa, o padre João da Silva Reis era o vigário da freguesia de São José dos Pinhais, mas como houvesse herdado fazenda na região da Lapa, solicitara sua transferência para a nova freguesia, na qual, segundo consta de documentação, passaria a possuir três fazendas: a primeira, na Lapa, com 81 cabeças de gado e três escravos, produzindo, anualmente, um alqueire de milho e outro de feijão (1772); a segunda, nos Campos do Tenente, adquirida por 500 mil-réis, com 200 vacas e 20 touros (em 26 de agosto de 1780); a terceira, na Boa Vista, doada por seu testamenteiro (24 de maio de 1803).

De acordo com documentação existente, o primeiro padre nomeado, João da Silva Reis, era filho de “João Pereira Braga e de Josepha Gonçalves da Silva, portugueses ambos, ele administrador de várias fazendas nos Campos Gerais, o que lhe dava direito a um quarto da criação”, por ano, permitindo-lhe posteriormente estabelecer-se como fazendeiro.

Após a concessão da sesmaria foram iniciadas as obras da matriz, em substituição à tosca ermida que servia aos moradores. Embora se ignore sua localização, de acordo com o Livro nº2 de Tombo não seria muito distante da atual igreja, e foi nela que se realizou o primeiro batizado da nova freguesia, em 13 de junho de 1769. Foi de uma menina que se passou a chamar Joana, “filha legítima de Antônio Rodrigues Pereyra e Francisca Fernandes de Syqueira, naturais desta freguesia, foram padrinhos José da Sylveira e sua mulher Maria Luiz de Syqueira, todos moradores nesta Freguesia” – o que confirma a existência de moradores na Lapa em data anterior a 1769.

No ano de 1784, data assinalada na verga da portada principal, a matriz já estaria concluída, e apesar da provisão da benção haver sido concedida em 1786, só cinco anos depois, no dia 31 de outubro, foi cumprida. Em 1802, segundo documentação, a matriz foi visitada pelo padre Luiz José de Carvalho, de Curitiba, que recomendou “o complemento de suas obras”, uma constante na maioria das construções de igrejas, no país: jamais eram dadas por concluídas, pois era difícil a mão de obra e quase impossível a aquisição do material apropriado.

Por volta de 1840 “uma grande bacia de pedra de grés e granito da Lapa, toscamente lavrada”, viria substituir a gamela de madeira até então utilizada como pia batismal, e no Livro nº 2 do Tombo o padre João Evangelista comenta haver visto dita gamela “em casa de um morador da cidade, pintada a óleo e bem conservada”. No decorrer de todo o século XIX, pelo que consta de documentação, a matriz sempre esteve em obras: em 1841, era o “telhado que precisava de reparos e esboço”; e logo adiante, se pede “seja rebocada, reentalhada toda a construção e recuperado seu assoalho, construir-se a torre e reparar-se o frontispício”. Em 1873, de novo, o telhado estava com problemas e eram pedidos recursos financeiros para “ladrilhar parte dos corredores e fazer uma torre, não só necessária para o edifício em si, como para seu aformoseamento”.

Durante o ano de 1874, com a ajuda do governo da província e da Irmandade do Santíssimo Sacramento, foi concluída a “parte acrescentada à matriz”, conforme o atesta a data na ventoinha colocada sobre o telhado-campanário. Mas em 1878, de novo, solicitações “para que se reboquem e caiem as paredes internas, seja reparado o forro do corredor, o trono e parte que se dirige para a torre”.

Segundo depoimentos de pessoas do lugar, a matriz não tinha mobiliário, pelo menos no que respeita a bancos para os fiéis. A balaustrada de madeira torneada, retirada na década de 70 daquele século de seu interior, dataria de fins do século XIX ou começo do século XX. Nela foram sepultados os coronéis Gomes Carneiro e Cândido Dulcídio, heróis do Cerco da Lapa, durante a Revolução Federalista de 1894. 

A edificação constitui bom exemplo da arquitetura luso-brasileira da segunda metade do século XVIII, pelo emprego da técnica em pedra, pela torre-sineira e pelo desenho barroco do frontão. De grande interesse ornamental, os elementos da fachada feitos em grés (arenito local), portada e requadros de ensilharia.

À altura do coro, na fachada principal, três janelas em guilhotina, divididas em quadrículos. Encimando o frontão, que é vazado por óculo polilobulado, o cruzeiro e, lateralmente, coruchéus como arremate dos cunhais. A igreja, de planta retangular, se divide em nave, capela-mor e sacristia, aos fundos. É coberta por telhado em duas águas na nave e capela-mor. Do lado esquerdo da fachada, a torre-sineira é recoberta Por telhado em quatro águas.

Encontra-se em bom estado de conservação e é mantida pela paróquia local. Em 1827 Debret documentou-a em aquarela, com panorama da então Vila Nova do Príncipe.

 

GALERIA DE IMAGENS

  • Igreja de Santo Antônio - Matriz da Lapa
    Igreja de Santo Antônio - Matriz da Lapa - Livro Tombo II - Inscrição 35 - Página 30
    Igreja de Santo Antônio - Matriz da Lapa
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    Igreja de Santo Antônio - Matriz da Lapa - Livro Tombo II - Inscrição 35 - Página 30
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    Igreja de Santo Antônio - Matriz da Lapa - Livro Tombo II - Inscrição 35 - Página 30